Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quarta-feira, 26 de julho de 2017

A arte de escrever crônicas




Já notaram como o brasileiro é um mestre na arte de escrever crônicas? Temos uma habilidade inata de expressar opiniões sobre os mais variados temas, alguns bastante complexos, de uma forma leve e bem-humorada em poucos parágrafos. A crônica é um texto que, por mais interessante que seja, já nasce predestinado a uma breve existência nos meios de comunicação impressos ou digitais, além da ameaça de se tornar precocemente datado, devido à velocidade do noticiário atual, principalmente no campo político, onde novas revelações mudam as expectativas e opiniões polarizadas do grande público em poucos dias ou até mesmo horas.

O que dizer então das colunas de crônicas semanais, onde o autor tem a responsabilidade de capturar a atenção do exigente leitor, rivalizando com a injusta competição da televisão, redes sociais e, mais recentemente, dos famigerados grupos de WhatsAppp que produzem uma enxurrada de notícias sem o menor compromisso com a veracidade, mas que fisgam o inadvertido usuário pelo apelo sensacionalista. Definitivamente não é uma atividade fácil para qualquer escritor. Na verdade, requer, cada vez mais, técnica, imaginação e originalidade.

Para os autores contemporâneos, portanto, torna-se um desafio ainda maior manter o nível de gerações passadas de grandes escritores que acabaram criando a tradição e um público leitor cativo, gênios como: Machado de Assis, João do Rio, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Rubem Braga, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues, Millôr Fernandes, João Ubaldo Ribeiro e Luis Fernando Verissimo, para citar apenas alguns poucos nomes mais consagrados.

Contudo, a crônica persiste com uma força criativa que expressa o inusitado casamento do jornalismo com a literatura, fato que não consigo identificar em outros países. Será que o gênero, na sua efêmera informalidade, reflete o espírito de "jogar conversa fora" do brasileiro? Os textos em primeira pessoa, geralmente mais opinativos do que informativos, geram uma atmosfera de identificação entre autor e leitor. O amigo Emerson Lopes me indicou recentemente o cronista Luís Henrique Pellanda da Gazeta do Povo do Paraná, vale a pena ler este exemplo de uma crônica que é pura poesia, um estilo muito original.